sábado, 31 de outubro de 2009

gostei

Passeio Socrático
por Frei Betto *
publicado em 20/9/2008.

Ao viajar pelo Oriente, mantive contatos com monges do Tibete, da Mongólia, do Japão e da China. Eram homens serenos, comedidos, recolhidos em paz em seus mantos cor de açafrão.

Outro dia, eu observava o movimento do aeroporto de São Paulo: a sala de espera cheia de executivos com telefones celulares, preocupados, ansiosos, geralmente comendo mais do que deviam. Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia um outro café, todos comiam vorazmente. Aquilo me fez refletir:

- "Qual dos dois modelos produz felicidade?"
Encontrei Daniela, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei:

- "Não foi à aula?"

Ela respondeu: - "Não, tenho aula à tarde". Comemorei:

- "Que bom, então de manhã você pode brincar, dormir até mais tarde".

- "Não", retrucou ela, "tenho tanta coisa de manhã..."

- "Que tanta coisa?", perguntei.

- "Aulas de inglês, de balé, de pintura, piscina", e começou a elencar seu programa de garota robotizada.

Fiquei pensando: - "Que pena, a Daniela não disse: "Tenho aula de meditação!"

Estamos construindo super-homens e supermulheres, totalmente equipados, mas emocionalmente infantilizados. Por isso as empresas consideram agora que, mais importante que o QI, é a IE, a Inteligência Emocional. Não adianta ser um superexecutivo se não se consegue se relacionar com as pessoas. Ora, como seria importante os currículos escolares incluírem aulas de meditação!

Uma progressista cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias! - Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito. Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos: "Como estava o defunto?". "Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite!" Mas como fica a questão da subjetividade? Da espiritualidade? Da ociosidade amorosa?

Outrora, falava-se em realidade: análise da realidade, inserir-se na realidade, conhecer a realidade. Hoje, a palavra é virtualidade. Tudo é virtual. Pode-se fazer sexo virtual pela internet: não se pega aids, não há envolvimento emocional, controla-se no mouse. Trancado em seu quarto, em Brasília, um homem pode ter uma amiga íntima em Tóquio, sem nenhuma preocupação de conhecer o seu vizinho de prédio ou de quadra! Tudo é virtual, entramos na virtualidade de todos os valores, não há compromisso com o real! É muito grave esse processo de abstração da linguagem, de sentimentos: somos místicos virtuais, religiosos virtuais, cidadãos virtuais. Enquanto isso, a realidade vai por outro lado, pois somos também eticamente virtuais…

A cultura começa onde a natureza termina. Cultura é o refinamento do espírito. Televisão, no Brasil - com raras e honrosas exceções -, é um problema: a cada semana que passa, temos a sensação de que ficamos um pouco menos cultos. A palavra hoje é "entretenimento"; domingo, então, é o dia nacional da imbecilização coletiva. Imbecil o apresentador, imbecil quem vai lá e se apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde diante da tela.

Como a publicidade não consegue vender felicidade, passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres: "Se tomar este refrigerante, vestir este tênis, usar esta camisa, comprar este carro, você chega lá!"O problema é que, em geral, não se chega! Quem cede desenvolve de tal maneira o desejo, que acaba precisando de um analista. Ou de remédios. Quem resiste, aumenta a neurose.

Os psicanalistas tentam descobrir o que fazer com o desejo dos seus pacientes. Colocá-los onde? Eu, que não sou da área, posso me dar o direito de apresentar uma sugestão. Acho que só há uma saída: virar o desejo para dentro. Porque, para fora, ele não tem aonde ir! O grande desafio é virar o desejo para dentro, gostar de si mesmo, começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento globalizante, neoliberal, consumista. Assim, pode-se viver melhor.. Aliás, para uma boa saúde mental três requisitos são indispensáveis: amizades, auto-estima, ausência de estresse.

Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Se alguém vai à Europa e visita uma pequena cidade onde há uma catedral, deve procurar saber a história daquela cidade - a catedral é o sinal de que ela tem história. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil, constrói-se um shopping center. É curioso: a maioria dos shopping centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingos. E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas...

Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista. Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas. Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Se deve passar cheque pré-datado, pagar a crédito, entrar no cheque especial, sente-se no purgatório. Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno.... Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer do McDonald's…

Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas: "Estou apenas fazendo um passeio socrático." Diante de seus olhares espantados, explico: Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia: Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Entre o ser e o ter

Quando eu trabalhava como uma louca, período integral, estudando... eu reclamava da falta de tempo. Eu sempre quis acordar alguns dias e poder dizer : HOJE EU POSSO FAZER O QUE EU QUISER, HOJE EU POSSO NÃO FAZER P. NENHUMA!
Quando eu via as injustiças no Brasil, o trânsito, a insegurança... eu pensava: QUERO MORAR NO CANADÁ. Eu sentia muitas saudades daqui e por quatro anos vivi o dilema "imigrar ou não, eis a questão"
Sabe quando você senta numa poltrona super confortável e percebe que é exatamente onde vc quer estar?
É assim que me sinto (Montréal é a poltrona confortável). Eu adoro morar aqui.

Porém, nem tudo é fácil. Um dos maiores desafios do imigrante é que aqui fala-se inglês e francês. E os empregadores são mais exigentes do que eu imaginava, por isso até agora mandei vários currículos, tive algumas entrevistas, mas por enquanto vou ter que ficar na vida boa. A vida boa de poder acordar e dizer: HOJE EU POSSO FAZER O QUE EU QUISER, HOJE EU POSSO NÃO FAZER P. NENHUMA!

Acabei de ler o livro LA CHUTE do Albert Camus. Adorei!
E aprendi a jogar Guitar Hero :-)

terça-feira, 20 de outubro de 2009

google maps

Talvez para alguns isto já não é novidade, mas descobri recentemente para que serve o homenzinho amarelo que fica na barra esquerda do google maps:
- primeiro você digita o nome da rua que quer localizar. Se vocês quiserem ver onde moro, entre em 3480 rue de bullion , montreal . não precisa do cep, mas caso queiram é H2x 29
- ao localizar o end. no mapa, arraste este homenzinho, que fica perto das flechinhas, em cima do end. encontrado e vcs vão ver as fotos da rua.
- além disso, ao clicarem no mapa, vocês podem ir mais pra frente ou mais pra trás, tendo uma visão melhor da rua.

Meu prédio é o único da rua com as portas e muretinhas pintadas de vermelho. Se vcs estiverem vendo os carros como se estivessem subindo, meu prédio fica à esquerda.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

então

além do meu aniversário perto de pessoas muito legais aqui, recebi muito carinho das pessoas que estão no Brasil. Gostaria de dizer que sinto muitas saudades:
da família- minha família é maravilhosa!
do pessoal que trabalhou comigo na cultura inglesa. nunca tinha trabalhado com gente tão legal.
dos meus amigos de cotia- gente que estudou comigo, gente do bairro....
dos amigos da faculdade
e dos outros que conheci em diferentes lugares e situações.

Eu até gostaria de trabalhar, mas sempre encontro coisas mais interessantes para fazer, como pegar livros, dvds e cds na biblioteca central...

mas to levando a sério esta coisa de procurar emprego. minha vida atual não paga minhas contas.

e espero receber em breve uma graninha de um trabalho que fiz com tradução pra comprar um computador novo. o meu acho que já tá cumprindo aviso prévio há muito tempo. e não quero fazer um crediário nas casas bahia....

bjinhos

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Meu aniversário

Foi muito bem comemorado!
Sábado fui a casa da Natália pro jantar de Thanksgiving. Reecontrei algumas amigas e foi muito gostoso.
Dia 11, almocei num restaurante francês, andei bastante com meu amigo. Já está frio, mas ainda dá pra andar pelas ruas sem congelar.
À noite nos encontramos num restaurante mexicano perto de casa, 3 amigos. Praticamente todos que convidei foram, inclusive a Akemi, uma grande amiga que conheci em 2003 e que mora em Vancouver agora. Foi uma visita relâmpago, mas muito legal.
Depois fomos ao St Sulpice pra dançar um pouco.

Dia 12, dia de ação de graças aqui (toda segunda segunda -feira de outubro). A Lilian preparou um super almoço com bolo e tudo para mim. Fiquei muito agradecida.

Minha vida está muito boa...